Paz e Bem!
A história que vamos conhecer hoje, em mais um capítulo da série especial “Aconteceu na Penha”, é de 1640. Sempre às sextas-feiras conhecemos um pouco mais sobre a tradição, a história e a expressão de fé do povo capixaba que há mais de 450 anos celebra sua padroeira com muito amor. Estamos destacando os aspectos históricos da religiosidade local, em pequenas reportagens os destaques que aconteceram na Penha.
Aconteceu na Penha… Em 1640, os holandeses tentaram invadir o Espírito Santo começando pelo Convento da Penha… À Virgem da Penha, são atribuídas milhares de intercessões e graças. Muitas destas “provas” de intercessão, estão expostas na Sala dos Milagres.Um desses milagres, de acordo com a história – lenda – está ilustrado na obra de Benedito Calixto. “A visão dos holandeses”, tela de 1927, relatando a tentativa de invasão dos holandeses. Em 1640, o corsário da Holanda, João Delchi, chegou à Ilha de Vitória e às margens da Prainha, com embarcações e soldados, afim de conquistar terras. Do mar, avistou o imponente e majestoso Convento, uma construção destacada no alto de uma montanha.
Eles tentaram empreender entrada ancorando na ilha aos pés do Convento. Ao perceberem que o local se tratava de um Santuário religioso, não foram invadindo com violência, à princípio. Ao notarem também a fragilidade da segurança do local, imaginaram a possibilidade de exploração de riquezas e domínio da povoação. Cerca de oitocentos homens, a bordo de grandes embarcações, chegaram prontos para o assalto, a invasão.
Ao tentarem assaltar o Convento, foram impedidos por soldados a pé e a cavalo que desciam das nuvens, em torno do Santuário, para fazer a sua defesa. Ajoelhados em torno da imagem da Virgem, com medo de conflito, os frades imploraram a sua proteção. Com a intercessão da Virgem Santa, não houve invasão ou conflito.
E o povo começou a cantar:
Nossa Senhora da Penha,
tem um manto de alegria;
Deus lhe deu os seus soldados
pra defender a baía.
Nossa Senhora da Penha
tem soldados a valer,
que lhe deu Nosso Senhor,
pro seu povo defender.
Nossa Senhora da Penha
tem um manto de alegria;
foram os soldados que deram,
quando vieram da Bahia.
Segundo historiadores, haviam os holandeses, tomado porto na Vila Velha e já começavam a fortificarem-se quando diante de seus olhos o Santuário ia se transformando em “castelo”, cercado de fortes muralhas e defendido por um esquadrão de soldados. Do monte descia muita gente a pé e a cavalo, todos “com armas luzentes e bem preparadas”. No morro, entretanto, não tinha ficado pessoa alguma e a própria Imagem tinha sido removida para o Convento de São Francisco (Cidade Alta, Vitória).
À vista deste espetáculo aterrador, os holandeses fugiram desordenadamente e recolheram-se às suas naus. Foram, porém, acometidos por um pequeno grupo de moradores, que lhes, mataram uns quarenta homens.
O fato deu-se no dia 22 de setembro de 1640, dia dos santos soldados mártires da legião tebana, com seu capitão S. Maurício. Por este motivo, os moradores, além de agradecerem a Nossa Senhora a defesa de seu Santuário, interpretaram o esquadrão ao pé do castelo como sendo a legião tebana, que no dia de seu martírio veio prestar socorro.
Outra tentativa de invasão ocorreu em outubro, mas essa história conheceremos em capítulos futuros.
A imagem do Convento da Penha gravada na imaginação dos capixabas acompanha a estes, em todas as situações importantes da vida, lembrando-lhes o poder e a intercessão infalível da Senhora da Penha quando invocada com filial confiança.
Benedito Calixto inspirou-se também para produzir outro painel, expressando a procissão marítima que conduziu a imagem de Nossa Senhora da Penha até Vitória, para acabar com a grande seca de 1769 que afetava a sede da capitania que estorricava as matas dos seus morros, enquanto a do Convento se mantinha viçosa. Diz a história que, logo após a procissão, a chuva caiu.
Alguns trechos foram extraídos do Livro dos Romeiros de 1847 e “Antologia do Convento da Penha”, ano 1974 (site morrodomoreno.com.br). O Convento da Penha, um templo histórico, tradicional e famoso 1534 a 1951 (Norbertino Bahiense)