A “Irmã Morte” visita o Convento da Penha na Oitava da Páscoa

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Vila Velha (ES) – Na celebração de Exéquias pela alma de Frei Luiz Flávio Adami Loureiro, que faleceu hoje, às 5h50, havia serenidade, apesar da saudade que já se instalou nos corações dos capixabas e de tantas pessoas por onde o frade passou evangelizando. Na Missa também do quinto dia do Oitavário da Festa da Penha, que está sendo celebrado na bela capela do Convento, desta vez foi no altar do Campinho, de frente para a Capelinha de São Francisco de Assis, onde ficou o caixão com o corpo do frade vítima da Covid-19.

Amavelmente, o confrade Dom Dario Campos, Arcebispo de Vitória, subiu ao Morro da Penha para presidir a celebração de despedida. Com ele, presentes os frades das duas fraternidades de Vila Velha, o Vigário Provincial Frei Gustavo Medella, que transmitiu o abraço apertado e cheio de solidariedade do Ministro Provincial Frei César Külkamp. Presentes também os sacerdotes da Área Pastoral Serra-Fundão, que hoje ficariam responsáveis pela celebração do Oitávario, e os familiares de Frei Luiz. Devido às restrições sanitárias, o povo só pôde acompanhar pelas mídias sociais.

No início da celebração, Frei Gustavo destacou os principais pontos da biografia de Frei Luiz e falou do quanto era querido em todos os lugares por onde passou. Foi uma celebração de saudade, esperança e emoção. Dom Dario emocionou a todos quando pediu no final de sua reflexão para que cantassem “Com minha Mãe estarei”.

Ele abriu sua reflexão com São Francisco de Assis, citando o Cântico das Criaturas: “Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã morte corporal a qual um homem vivente pode escapar”. “Com palavras semelhantes a estas, o nosso Pai São Francisco refletia sobre a sua própria morte e sobre a morte de todos os homens e mulheres desta terra. São Francisco de Assis abraçava mansa e humildemente o findar do seu caminhar neste mundo, entregando-se nas mãos amorosas do Seráfico, o Cristo Crucificado, que o conduziria até a Casa do Pai”, disse.

Dom Dario, lembrou que nesses dias solenes da Oitava da Páscoa e no percurso do Oitavário da Virgem da Penha, a Nossas Senhora das Alegrias, a nossa irmã morte visitou o Convento da Penha e levou consigo o irmão Frei Luiz Flávio Loureiro. “Foram muitos anos de entrega da vida, do compromisso com o Evangelho de Jesus Cristo, vivenciado com o carisma e apostolado franciscano. Assim, ao passar por nós, a nossa irmã morte o leva consigo sem conseguir, porém, apagar da memória o que o nosso irmão foi para todos que o conheceram e conviveram com ele”, observou.

Segundo o Arcebispo, “a morte de nosso irmão se une a tantos e tantas irmãs e irmãos nossos que se foram nesse momento de grande dor e sofrimento, o qual a humanidade inteira está sendo provada. Nossa família, hoje, chora pela perda desse nosso amado irmão, partilha do sofrimento e perdas impostas a tantas famílias no nosso país e no mundo inteiro”, recordou.

“Que o Senhor Nosso Deus conceda o repouso eterno aos que partiram, a paz a todos os que ficaram, a força e a coragem e o vigor aos que cuidam dos doentes e necessitados. Pedimos, sobretudo, nesse tempo de pandemia que o Senhor conceda aos que nos governam a lucidez necessária e o compromisso concreto com a defesa da vida, a fim de que se empenhem no combate concreto com a defesa da vida, a fim de que se empenhem no combate da escalada da morte que temos visto, unidos da ciência e convocando toda a sociedade na mesma tarefa humanitária”, pediu.

Dom Dario, dirigindo-se à Viagem da Penha, disse: “Que a Mãe que hoje volveu sobre o nosso irmão Frei Luiz o seu olhar compassivo e amoroso, o apresente ao seu Filho Jesus, a fim de que o acolha na vida eterna. Voltai para nós o seu olhar, oh Santa Mãe de Deus, e alegrai-nos com a força e o vigor do Evangelho do seu Filho Jesus Cristo”, concluiu.

Dom Dario agradeceu, efusivamente, as manifestações de solidariedade e carinho que recebeu. As mensagens vieram de todas as partes do país, especialmente do Regional Leste da CNBB. O Arcebispo agradeceu ao povo capixaba, à Arquidiocese, aos frades do Convento, a Frei Gustavo, representando a Província da Imaculada, as autoridades e especialmente a equipe do hospital da Serra, “que cuidou do nosso irmão. A eles nossa eterna gratidão pelo trabalho que têm feito com outros irmãos que estão doentes”.

ATÔNITOS E AFLITOS

Frei Gustavo disse na sua reflexão que estamos vivendo um tempo que traz em si uma contradição que tem nos deixado perdidos e machucados ao mesmo tempo. “A contradição é a seguinte. A doença e a morte nunca estiveram tão perto e tão longe de nós ao mesmo tempo. Isso machuca muito. Tão perto porque essa pandemia vem ao nosso lado, dentro de nossa casa, pegando gente que é sangue do nosso sangue, e tão longe porque quando esses nossos irmãos adoecem, nós não podemos fazer uma visita, não podemos estar ao lado deles. E também quando falecem não podemos sequer fazer uma cerimônia de despedida. Isto tem nos machucado, tem nos deixado atônitos, aflitos, sem entender bem o que está acontecendo”, lamentou.

Citando o desdobramento do Evangelho de Emaús, Frei Medella disse que o Senhor sempre “vem nos puxar para o eixo”, vem nos lembrar que a ressurreição é, sim, alegria, exultação, mas não sem dor. “Não é passar uma borracha na dor e fingir que ela não existe mas é conseguir dar a ela um sentido que vai além. De esperança. Disso que nós somos testemunhas. Disso foi testemunha Frei Luiz Flávio durante toda a sua vida. Quantos corações aflitos ele não consolou? Quantos doentes ele não visitou? Quantas Eucaristias ele não celebrou, trazendo presente o Cristo e fazendo com que as pessoas o reconhecessem, ao partir e ao distribuir o pão?”, questionou.

“Se ele nisso acreditou, se dele disso foi testemunha, se nós o amamos e o queremos bem e agora pelo que cremos ele participa daquilo que testemunhou a vida toda, ainda que com o coração pequeno, precisamos reservar, sim, um espaço para a alegria e para a gratidão. Dizendo ao Senhor: Muito obrigado, Meu Deus, pelo dom da vida deste nosso irmão. Muito obrigado a vocês, familiares e D. Guidomar, porque ofereceram um dos preciosos frutos para a vida religiosa franciscana”, agradeceu.

“AGORA ELE É SEU, MÃE!”

Frei Pedro Oliveira, em nome da Fraternidade, agradeceu a “presença fraterna” de Frei Luiz. “Ele tinha de fato uma paixão muito grande por esse Convento. Tanto que ontem à noite eu soube que o estado dele tinha se agravado, por volta das 21 horas, e fui silenciosamente diante da imagem da Mãe e falei pra ela: ‘Mãe, agora ele é seu. Agora, daqui para frente, é contigo, não resta mais nada!’. Com certeza, ela cuidou”, contou.

Segundo Frei Pedro, a palavra que tinha a todos era de gratidão. “Só nos resta dizer: ‘Luiz, Deus lhe pague por tudo, Deus o recompense. Que a Senhora das Alegrias, a Senhora da Penha, o acolha nos seus braços junto ao seu Filho ressuscitado e junto ao Seráfico Pai São Francisco”, completou.

Frei Pedro deu uma boa notícia no final: Frei Paulo César, a voz de Nossa Senhora da Penha,  deverá ter alta amanhã. Segundo ele, o guardião Frei Paulo está respondendo bem ao tratamento e deixando aos poucos o oxigênio.

Na encomendação do corpo de Frei Luiz, Dom Dario pediu que os frades irmãos, Frei Alessandro e Adriano do Nascimento, que foram coroinhas de Frei Luiz quando foi pároco em São Lourenço, MG, carregassem o Círio Pascal até o caixão. Com a “Oração de São Francisco”, Frei Luiz foi sepultado no jazigo ao lado da Capelinha do Seráfico Pai.

Por último, Frei Pedro lembrou que o sexto dia do Oitavário da Festa da Penha, neste 9 de abril, começa com a Bênção do dia pela TV Gazeta. Ao meio-dia, o público será convidado a uma grande corrente de oração através do Terço Franciscano, que será transmitido ao vivo nas redes do Convento da Penha. A primeira Missa do Oitavário, às 16 horas, será presidida por Pe. Celso e Pe. Osmar, área pastoral Vitória. Às 18 horas, o Programa “Salve Mãe das Alegrias” terá a participação da cantora Jenifer, terminando o dia com a segunda Missa do Oitavário, às 20 horas, presidida Pe. Jorge Campos, Vigário Geral da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

UMA IMAGEM QUE FALA POR SI

A pombinha branca, no ambão, acompanhou toda a celebração com muita reverência e silêncio. Ficou ao lado de Frei Clarêncio Neotti que nem percebeu a sua presença.

Texto de Moacir Beggo e fotos de Isabela Ladeira e Matheus Borsoi

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