Moacir Beggo
Vila Velha (ES) – Liderada pelo seu pastor Dom Dario Campos, o povo de Cachoeiro de Itapemirim lotou 60 ônibus, 12 vans e 5 micro-ônibus para participarem da Festa da Penha. Tradicionalmente, a Romaria da Diocese de Cachoeiro é que reúne mais fiés na celebração do Oitavário, às 15 horas, no Campinho.
O bispo franciscano começou falando das tonalidades com que se reveste a ternura de Nossa Senhora e do tema da Festa deste ano. Ele apresentou o tempo de Páscoa como a madrugada de um dia novo e acentuou as atitudes das primeiras testemunhas da ressurreição: espanto, alegria, fraternidade.
Um grupo de meninas coreografou a música “Todas as Nossas Senhora” com muita devoção e, logo em seguida, um menino cantou à capela “Quando chega a tarde”. O menino carregava uma enxada e um chapéu, que abandonou antes de chegar ao altar implorando à Virgem das Alegrias socorro para os mais necessitados. As crianças pertencem à Comunidade Sagrada Família de Soturno, que preparou a homenagem durante a Ação de Graças.
No final, Dom Dario agradeceu ao guardião do Convento Frei Valdecir Schwambach pela acolhida e recebeu deste os agradecimentos pela Romaria bem animada e sempre preparada com devoção e fé.
ÍNTEGRA DA ROMARIA DE DOM DARIO
Queridos irmãos, queridas irmãs, louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Essa tarde, para nós, é uma tarde diferente, ela vem revestida de várias tonalidades da ternura de Nossa Senhora. Uma das ternuras é de estar na Casa da Mãe. Como é gostoso voltar à casa e sentir-se em casa. A segunda é o sentimento de família. Em casa, a gente vive o clima da família, cria fraternidade, cria laços, apesar das briguinhas em família que de vez em quando acontecem, mas depois de uma conversa, a concórdia volta ao lar. Temos a terceira, que é o sentimento de comunhão. Não estamos sozinhos na casa da Mãe, temos outros irmãos e irmãs, outros romeiros que conosco estão celebrando o mistério do Seu Filho Nosso Senhor Jesus Cristo aqui nesse santuário. A quarta ternura é a gente renovar o sentimento da missão, da saída, da ida, da volta, e de ir anunciar o Cristo Ressuscitado a todos os nossos irmãos batizando em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Estamos vivendo um período muito rico para a nossa fé cristã: a oitava da Páscoa – e o Evangelho nos apresenta novamente a figura de Maria Madalena. Os evangelistas divergem muito entre si no que se refere aos detalhes daquela madrugada, ou seja o primeiro dia da semana, quando a tumba de Jesus de Nazaré se encontrava vazia.
Num ponto, eles são unânimes: Maria Madalena. Ela é a única constante de todos os relatos. E é apontada por todos eles como a primeira dentre os seguidores de Jesus a testemunhar que algo incomum ocorrera com o corpo do crucificado após a sua morte.
Vamos ver um pouco o Evangelho. Vejam que coisa interessante que eu quero partilhar com vocês: Ressuscitado na madrugada do primeiro dia depois do sábado, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena.
Vejamos: Madrugada significa um tempo ainda escuro, sem muita clareza. É madrugada na vida de Maria Madalena e dos demais discípulos. Tudo está envolto numa espessa névoa que recobre seus corações. Primeiro sentimento de que alguém havia tirado o corpo dali.
A madrugada tem também outro significado: é o da aurora de um novo dia que não tardará a despontar. Se o momento ainda é de escuridão, no horizonte começam a despontar os primeiros sinais da aurora do amanhecer de um novo dia. Daí, pedra removida, lençol mortuário dobrado ao lado, faixas de linho no chão, enrolados num lugar à parte etc.
Se o primeiro momento é de espanto pela perda do corpo, o segundo é de alegria pela confiança na ressurreição.
É o primeiro anúncio feito por uma mulher. O anúncio de que algo estranho havia acontecido. Ela quis contar algo que, embora não tivesse clareza, intrigava seu coração. Essa atitude foi importante porque despertou a curiosidade dos demais. São João Evangelista nos diz que eles foram correndo ao encontro do Senhor. Diz o texto que saíram correndo juntos, porém o discípulo amado chegou primeiro. Quem ama sempre chega primeiro e entende, antes, os sinais da ressurreição. Chegou primeiro, mas não entrou. É um gesto de confiança e paciência de quem verdadeiramente ama e crê. Pedro chegou depois e entrou. Pedro talvez ainda estivesse com o coração arrependido por ter, dias antes, negado Jesus por três vezes. Tinha ânsia de conferir o que Maria Madalena havia dito. O discípulo amado acreditou primeiro. Quem ama acredita, mesmo que não tenha provas palpáveis. A ressurreição nem sempre nos é apresentada com provas que podemos tocar. É um dado da fé. É a essência da nossa fé. É o que o Discípulo amado ensina com esse gesto de chegar primeiro, de entrar por último e de acreditar antes de todos.
Nossa Senhora da Penha, queremos ser discípulos Missionários de seu Filho Jesus, e quem é discípulo vai criando fraternidade, e essa fraternidade nos leva ao caminho da paz. O nosso saudoso papa Paulo VI nos ensina que tanto as pessoas como as nações se devem encontrar num espírito de fraternidade. E explica: “Nesta compreensão e amizade mútuas, nesta comunhão sagrada, devemos (…) trabalhar juntos, para construir o futuro comum da humanidade. Este dever recai primariamente sobre os mais favorecidos. As suas obrigações radicam-se na fraternidade humana e sobrenatural, apresentando-se sob um tríplice aspecto: o dever de solidariedade, que exige que as nações ricas ajudem as menos avançadas: o dever de justiça social, que requer a reformulação em termos mais corretos das relações defeituosas entre povos fortes e povos fracos, o dever de caridade universal, que implica a promoção de um mundo mais humano para todos, um mundo onde todos tenham qualquer coisa a dar e a receber sem que o progresso de uns seja obstáculo ao desenvolvimento dos outros.
A fraternidade gera paz social, porque cria um equilíbrio entre liberdade e justiça, entre responsabilidade pessoal e solidariedade, entre bem dos indivíduos e bem comum.
A fraternidade ajuda a guardar e cultivar a natureza.
A família humana recebeu do Criador um dom em comum: cuidar e zelar da natureza. A visão cristã da criação apresenta um juízo positivo sobre a licitude das intervenções na natureza para dela tirar benefício, contanto que se faça com responsabilidade. Em suma a natureza está à nossa disposição, mas somos chamados a administrá-la responsavelmente. Em vez disso, muitas vezes deixamo-nos guiar pela ganância, pela soberba de dominar, possuir, manipular, desfrutar, não guardarmos a natureza, não a respeitamos, nem a consideramos como um dom que nos foi dado pela gratuidade de Deus.
Nossa Senhora da Penha ajuda-nos a criar e a viver essa fraternidade, no seio da família em que se aprende a viver a solidariedade, se aprende a repartir ou seja a partilhar. Permita falar de um exemplo de quando eu era jovem, e olha isso já no século passado. Antes de ingressar na vida religiosa franciscana, eu trabalhava em um escritório de contabilidade no centro do Rio de Janeiro. Esse escritório tinha um grande contato com o Banco de Tóquio, por causa de alguns clientes. No final do ano, o gerente do banco comprou uma bicicleta para os seus filhos, uma só, e todos os funcionários começaram achar isso algo estranho e falavam um para o outro: ele é muito pão-duro. Fiquei sabendo e fui conversar com ele, aí ele me explicou. A cultura japonesa é muito diferente da cultura brasileira. Comprei uma bicicleta sim, pois tenho dois filhos, e eles têm que saber repartir, o horário de uso, um horário para um e outro usa em outro horário. Com isso, eles aprendem a partilhar e eu guardo mais dinheiro… Falei: é cultura diferente mesmo….
Por fim, um pedido à nossa Mãe.
Mãe da Penha, iluminai todos os sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, seminaristas e líderes de nossas comunidades de base, enfim todos estamos comprometidos no anúncio do Evangelho, daí a todos a alegria de servir fielmente e levar a todos a Boa Notícia da ressurreição do seu Filho Jesus de Nazaré. Protegei, oh Mãe da Penha, os nossos jovens, as nossas crianças, os nossos idosos, os nossos doentes, as nossas famílias, cubra, ó Mãe querida com o vosso manto, todos os corações desses homens e dessas mulheres; minha Mãe, não se esqueça de mim vosso indigno servo. Fazei-me sempre viver na graça de vosso Filho Jesus, sob a proteção dos apóstolos, dos quais sou um humilde sucessor, iluminai a minha vida para que eu possa iluminar a vida de tantos que me foram confiados.