Paz e Bem.
Como acontece em toda primeira sexta-feira do mês, foi realizada na Capela do Convento, na tarde deste dia 7 de novembro, a Missa Votiva do Sagrado Coração de Jesus. A celebração foi presidida pelo Frei Gabriel Dellandrea, OFM, que em sua homilia refletiu sobre a “esperteza” de que fala o Evangelho, ilustrando que o cristão é chamado a usar sua inteligência, sabedoria e “esperteza” não em benefício próprio, mas para seguir com fidelidade o caminho de Cristo. “O mundo é dos espertos mas na lógica do Evangelho, a esperteza é diferente”
Inspirando-se na parábola do administrador infiel (Lc 16,1-8), Frei Gabriel explicou que a esperteza pode ser uma virtude quando usada para o bem. “Esperteza, de antemão, não é uma coisa ruim. O próprio Senhor diz que os filhos deste mundo são muito inteligentes no campo da esperteza. A etimologia de ‘esperteza’ indica alguém que faz a experiência, alguém que se propõe a fazer algo e tira uma boa lição disso. O esperto é aquele que tem uma capacidade de se adaptar e de se ajustar às diversas realidades. Agora, a esperteza pode ser usada para o bem ou para o mal. E, nesse sentido, quando dizemos que o mundo é dos espertos, às vezes até parece que os espertos são os maus, não é verdade? E temos por intuição primeira que esperteza e maldade são quase que sinônimos”, comentou.
“Talvez a esperteza seja justamente não agir por maldade, porque o peso na consciência, o remorso, são realidades que depois aparecem e custam caro. E por mais que agora pareça ser esperteza, depois pode se transformar em culpa. E aí não se ganha nada. O evangelho de hoje fala justamente sobre isso. De que na lógica do nosso mundo, para que nós possamos sobreviver às realidades, às vezes nós nos utilizamos de esperteza. E assim como na parábola que Jesus contou, o administrador infiel foi elogiado por quê? Vendo que ia ser mandado embora, chamou quem devia para o patrão e falou, olha, se você está devendo cem, agora coloca cinquenta ali. Ou seja, estava fazendo amizade com o cara já. Estava amarrando uma próxima contratação, porque sabia que essa já não ia mais dar certo. Ele já começou a costurar as possibilidades de sair daquela situação que ele estava, de uma possível demissão, e já amarrando a sua vida com outra pessoa para ter como sobreviver, porque ele estava tomando consciência da sua própria vida e vendo”, explicou.

Em seguida, Frei Gabriel utilizou um exemplo de sua vida. A lição da professora. Com bom humor, Frei Gabriel recordou uma experiência dos tempos de escola, quando uma professora de história permitiu que os alunos levassem uma “cola autorizada” para a prova. “O que aconteceu? Eu nem precisava nem olhar a folha, já sabia tudo de cor. Era a data das Primeiras e Segunda Guerras Mundiais, onde começou, assim por diante, toda a história”, contou. Para ele, o gesto da professora foi um exemplo de esperteza usada com sabedoria: “Ela não queria apenas resolver o problema da cola, mas o da aprendizagem. Fez a gente escrever, estudar, aprender. E aprender significa escrever.”
Ao final da reflexão, Frei Gabriel convidou os fiéis a aplicarem a “esperteza do Evangelho” na própria vida espiritual. “Precisamos começar a negociar com os nossos dramas, nossos traumas, até com nossas más ações. Não para pensar no que perdemos, mas no que estamos ganhando — a fidelidade ao seguimento de Jesus.”
Ele concluiu pedindo que todos busquem o verdadeiro ganho que vem de Deus: “Que esta liturgia nos anime a fazermos as negociações necessárias para deixarmos de lado tudo o que não condiz com o Evangelho e abraçarmos a lógica da vida de Jesus. “Na lógica do Reino de Deus, não vencem os espertos. Ganhar, na lógica do Reino de Deus, às vezes é perder. Perdemos às vezes algumas oportunidades, perdemos às vezes algumas realidades, mas não na perspectiva de quem fica triste porque não pode mais fazer uma coisa ou outra, porque sabe não o que está perdendo, e sim o que está ganhando. E isso é esperteza. O esperto nunca pensa no que está perdendo, o esperto sempre pensa no que ele está ganhando. Portanto, a esperteza nos convida a ganhar. Não necessariamente ganhar como competitividade, mas ganhar como acolher e ter aquilo que realmente faz sentido. Todos nós queremos ganhar a experiência de sermos filhos e filhas de Deus, mas para isso é preciso a esperteza de quem abre mão de algumas coisas, de quem deixa coisas para trás para poder ganhar aquilo que realmente importa, para poder atingir o bom êxito daquilo que realmente dá certo, para ter aquilo que realmente vale a pena”, finalizou.































