Quaresma, tempo de buscar o novo dentro de nós!

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De tempos em tempos, precisamos retomar aquilo que é importante para bem vivermos. Faz parte de nossas faculdades, esquecermos. É necessário, das muitas coisas que vivemos, esquecermos algumas, pois podem tornar-se conteúdo desnecessário para a vida. Carregar coisas desnecessárias pesa a vida por demais.

Todos os anos, a Igreja nos pede que voltemos a elementos importantes para nossa vivência da fé. O tempo da quaresma que estamos vivendo, é o tempo em que muito se fala de conversão, reconciliação, misericórdia, caridade, jejum, oração e esmola. São palavras fortes para nos ajudar na vivência da quaresma. Diria que tais palavras na sua maioria apelam para uma nova atitude do interior do ser humano. Neste tempo quaresmal, quem sabe não poderíamos entendê-lo como um refazer-se interiormente. Não é o tempo de fazermos muitas coisas, muitas obras, mas é tempo de deixar Deus novamente habitar dentro de nós pela atitude de conversão.

O homem que dia-a-dia converte-se, muda de direção. Esta é nossa meta: cada dia buscar novamente corresponder aquilo que se é esperado de nós. Pela atitude de auto-avaliação e conversão, aquilo que interiormente foi modificado, exterioriza-se em gestos, atitudes de misericórdia, compaixão, ou caridade, como queiramos dizer. O Bem experimentado na solidão do deserto da quaresma, torna-se “carne” naquilo que nós realizamos.

Frase que ilumina o tempo da quaresma encontramos, dentre os outros profetas, Joel, que diz: “Rasgai vossos corações, não as roupas! Voltai para o Senhor vosso Deus, pois ele é bom e cheio de misericórdia! É manso na raiva, cheio de carinho e retira a ameaça (Jl 2,13)!” Ao exortar para que “rasguemos nosso coração” o profeta nos convida a quebrar em nossos corações tudo aquilo que com o tempo, foi petrificando-se, até tornar-se um mal em nossa vida: apegos, ódios, ressentimentos, falta de perdão, injustiças, roubos, invejas, todo tipo de crueldade cometidas ao próximo e que desagradam também a Deus, criador de todos e de tudo.

Rasgar os corações, é também lembrar-se que dentro de um coração endurecido pelo tempo, pode habitar um novo humano. É necessário quebrar então ou rasgar o orgulho, o mal que habita dentro de nós, para que possamos exalar o bom odor das boas atitudes que brotam da fé. Ninguém é tal mau que não tenha nada de bom a oferecer. Só o coração que se deixa “rasgar” neste tempo poderá ser curado pela força que vem da Palavra.

O período da quaresma inicia nos lembrando Jesus, que após o batismo, foi conduzido para o deserto. Vejo o deserto como a nossa vida. Quando penso em deserto, penso no povo de Deus que caminhou durante muitos anos pelo deserto, sob sol, vento, frio, animais mortíferos, medo de todo tipo. O deserto é o lugar dos extremos; lugar do teste. Lá, os fracos morrem, o forte fraqueja, mas segue adiante. Assim é nossa vida. Acredito que atravessamos pelo deserto mas não estamos sós. Assim como com o povo no deserto, Deus caminha conosco, enquanto humanidade e também como indivíduos.

Deserto e cruz são dimensões que compõem nossa vida. Eles não são destinos, são passagens, meios para se chegar a um determinado lugar. Nesta quaresma, entremos no deserto da vida e olhemos para o horizonte da cruz de Cristo, e através deles, renovemos nossa fé na ressurreição que, esta sim, será a palavra que regerá nossa vida. De uma certa forma, todos nós vivemos mais ou menos intensamente, a via-crucis, quando precisamos amar, nos doar, pensar nos outros e fazer o bem. O sofrimento humano, a dor, nos lembram sempre que a cruz é componente da vida, importando sempre, integrá-la. Somos homens e mulheres de fé e temos a plena certeza de que é pela cruz que se chega à ressurreição. Depois da sexta-feira da paixão, vem o aleluia da manhã da ressurreição. Depois do deserto, a terra sonhada.

Boa quaresma a todos(as).
Frei Valdecir Schwambach
Vila Velha, 17 de março de 2011

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